Clínica Integrada Godoy

Ansiedade na infância e na adolescência

Etimologicamente o termo ansiedade é originário do latim “anxius” caracterizando-se como agitação, angustia. O termo “anxius”, derivado da palavra “agere” significa sufocar, estrangular, e está diretamente relacionado à sensação de sufoco freqüentemente observado no discurso de pessoas ansiosas.
Segundo Dalgalarrondo, (2008) a ansiedade é definida como um estado de humor desconfortável, apreensão negativa em relação ao futuro, inquietação interna desagradável que pode vir, com manifestações somáticas, fisiológicas e psíquicas, que se não controladas podem vir a prejudicar tanto o trabalho quanto qualidade de vida.
A intensidade e a duração da ansiedade variam de um individuo pra outro, considerando, sobretudo, suas aptidões, capacidade de resiliência e situações vivenciadas. O que difere uma ansiedade em estado normal ou patológico é a intensidade da mesma.
Os fenômenos ansiosos existem desde os séculos que antecedem o nascimento de Cristo. Entretanto somente ao final do século XIX é que, a partir dos estudos de Sigmund Freud, que os transtornos de ansiedade passam a ser classificados de forma mais sistemática. Freud descreveu de maneira objetiva quadros clínicos que causavam disfunções relacionadas com a ansiedade. Atualmente a nomenclatura e classificação dada à estes quadros, se encontram descritos no CID e DSM.
Em crianças, há relatos dos primeiros casos clínicos, que datam do início do século XX. Freud publicou o caso do pequeno Hans em 1909, em que um menino de cinco anos apresentava um quadro de neurose fóbica. Houve uma intensificação no interesse pelo tema ansiedade infantil a partir da década de 40, devido o aumento do número de crianças órfãs, resultado da Segunda Guerra Mundial, que serviu como grande motivação para os pesquisadores da época.
Atualmente, os transtornos de ansiedade estão entre os problemas emocionais mais comuns na infância e na adolescência, sendo que as características principais dos quadros ansiosos se sobrepõem de forma simultânea entre os sintomas, podendo sofrer variações de acordo com a idade. Em idades precoces, por exemplo, o medo de se separar de uma figura de vinculação, ao passo que medos sociais se manifestam com mais frequência em idades mais avançadas, principalmente na adolescência.

Apesar de não exercer um impacto sobre a vida da criança ou do adolescente em relação a outros transtornos, os efeitos devem ser considerados. Crianças e /ou adolescentes ansiosos, costumam ter menos amigos, em geral são mais tímidas. Tem dificuldades em fazer amigos e frequentar outros grupos sociais, limitando seu ciclo de amizades e interações podendo exercer assim, um grande impacto sobre a vida social, podendo também afetar o desempenho acadêmico.
A manifestação da ansiedade na criança ou adolescente pode ocorrer a partir de pensamentos que giram em torno de algum tipo de perigo ou ameaça, ou pode ser experimentada fisicamente, através do corpo com reações que podem alterar o funcionamento normal do organismo. Por conseguinte a apreensão pode causar dores de cabeça, no estomago, vômitos, etc.
Os tipos de ansiedade mais comumente diagnosticados em crianças/e adolescentes e que os sintomas podem ocorrer de forma simultânea são:

Transtorno de ansiedade generalizada
A TAG é um dos transtornos mais comuns em crianças e adolescentes, tendo como principal manifestação a preocupação excessiva e persistente, quase sempre acompanhada de sintomas físicos. Sobretudo, a partir de queixas somáticas, como dor de cabeça e estomago náuseas e palpitação.
Os jovens diagnosticados com TAG se mostram excessivamente inseguros e sensíveis a críticas, podem apresentar preocupação desproporcional com pessoas, eventos, doenças e com o próprio desempenho afetando o funcionamento cotidiano do individuo provocando problemas de sono, concentração e atenção, reduzindo a produtividade e interferindo nos relacionamentos familiares e sociais.

Transtorno de ansiedade de separação
A ansiedade de separação e o transtorno de ansiedade de separação são fenômenos distintos. A primeira é observável em diversos momentos, ao longo do desenvolvimento normal do ser humano, é um sentimento natural que ocorre nos momentos de separação entre o indivíduo e alguma pessoa de grande importância afetiva em sua vida, sendo mais intenso na infância. Porem, o fato de apresentarmos sinais de ansiedade de separação, não é suficiente para caracterizá-lo como um transtorno.
O transtorno, porém, provoca prejuízo e sofrimento para o individuo e pessoas próximas, contudo os sintomas para definir um diagnóstico não são considerados de modo isolado, são interpretados dentro de um contexto. Alem disso consideram-se também fatores genéticos que possam estar associados ao transtorno.
Intenso desconforto nos momentos de separação de uma figura de vinculação, receio intenso e persistência de perda desta figura; recusa ou relutância em sair de casa para ir à escola ou a outro lugar devido ao medo da separação; medo excessivo quanto a ficar sozinho ou longe; preocupação intensa e persistente de que algo cause a separação da figura de vinculação como perder-se ou ser seqüestrado; recusa em dormir fora de casa; pesadelos repetitivos envolvendo o tema da separação; dores de cabeça, de estomago, vômitos ou outros sintomas físicos durante, ou antes, dos momentos de separação da figura de vinculação, estão entre os principais sinais e sintomas que caracterizam esse transtorno.

Transtorno de ansiedade social (fobia social)
A TAS é um dos transtornos mais comuns na infância e na adolescência fazendo com que se sintam incomodados e/ou como medo em situações nas quais estão próximas de outros indivíduos interagindo ou sendo observadas por eles. Temem fazer algo de errado, ou comportar-se forma humilhante ou embaraçosa nessas situações ficando expostos à avaliação negativa por parte dos outros. Geralmente evitam eventos sociais, escolares, prejudicando seu desempenho em varias áreas da vida acarretando importante sofrimento.
Em crianças e adolescentes com TAS o medo experimentado diante das situações sociais são tão intensos que podem chegar a paralisá-las, não permitindo que elas se preparem e enfrentem tais eventos tornando-os mais vulneráveis e inseguros diante de tais situações que conduzem ao isolamento e a limitações em vários aspectos da vida diária como, por exemplo, no funcionamento familiar, ocupacional, acadêmico, em relacionamentos e atividades sociais.
Os indivíduos com TAS apresentam pior desempenho escolar como faltas freqüentes e maior chance de abandonar os estudos; dificuldade em relacionamentos amorosos; maior freqüência em tentativas de suicídio; ausência de relações sociais próximas.
Em todos os transtornos descritos acima, existe tratamento que na maioria dos casos pode aliviar de modo significativo os sintomas com o tratamento psicoterapêutico, medicamentoso e/ ou a combinação de ambos. Essa atenção especializada permite que o sofrimento seja abreviado e para que não haja complicações importantes para o futuro, vale ressaltar ainda, a importância da família e da escola na eficiência do tratamento.

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