Clínica Integrada Godoy

Como ocorre o processo de acompanhamento psicológico perinatal

O período de gestação é caracterizado por profundas e variadas transformações, nas quais, tanto a mulher, como o próprio casal, necessitam de novas adaptações e reorganizações intrapsíquicas e interpessoais. A mulher passa por uma serie de mudanças físicas e psicológicas que estão intimamente ligadas aos aspectos emocionais que a gestação, o parto e o puerpério acarretam. Trata-se de uma experiência singular que envolve expectativas, desejos e fantasias, trazendo à tona sentimentos contraditórios e inesgotáveis encontros e desencontros em que conflitos e traumas podem ser reativados.

Na tentativa de atender as demandas do discurso social, muitas vezes a maternidade é marcada por uma tendência que impele a mulher a se encaixar em ideologias sociais, em fórmulas e métodos com o intuito de propor soluções, resolver situações, que encobrem o saber e o processo de construção do tornar-se mãe. Há de se considerar ainda que, a própria história e as experiências vivenciadas pela mulher ao longo da sua vida, neste caso a própria relação com sua figura materna, que faz parte do seu universo simbólico desde a sua infância e no qual ela irá se identificar pode influenciar no modo como ela desempenhará o seu papel como mãe.

Diante deste cenário, a escuta das singularidades e particularidades de cada um no processo perinatal, se faz necessário, pois cada sujeito atribuirá significados pessoais e responderá de modo específico às circunstâncias que envolvem o processo. Esse tempo de escuta é definido como “tempo de cuidado”, de compreensão do que é maternar, de possibilitar que não só a gestante, mas que o casal possa lidar com os fragmentos, de suas próprias histórias em relação à gestação e a maternagem. O vínculo estabelecido entre o psicólogo e a gestante será de suma importância para que possa acessar as suas fantasias e reposicionar-se contrapondo o idealizado e a realidade, com ênfase nos conflitos reais que surgem das idealizações da família perfeita, abrindo espaço para o bebê real que se apresenta.No processo perinatal, o psicólogo é levado a investigar aspectos emocionais de forma didática durante os três trimestres de gestação, embora isso ocorra simultaneamente.

O preparo para exercer a maternidade pode ser carregado de sentimentos intensos que envolvem conteúdos conscientes e inconscientes na mulher Sendo que a relação mãe-bebê começa desde o início da gestação e acontece por meio das expectativas que a mãe tem sobre o bebê e da relação que estabelece com ele que será possível ser constituída após o nascimento.

No primeiro trimestre, como o bebe ainda não é sentido verdadeiramente, a mulher passará por intensas oscilações de sentimentos, devido ao grande volume de mudanças intrapsíquicas que ocorrem nesta fase. As primeiras reações emocionais aparecerão a partir do momento da percepção, descoberta e confirmação da gravidez. É comum haver oscilações entre querer ou não o filho e em alguns casos até mesmo a rejeição. Estas oscilações durante a gestação podem ocorrer principalmente pelo próprio esforço de adaptação à nova vida, que envolve novas rotinas, tarefas, responsabilidades, aprendizagens e descobertas. Essas vivências de conflitos de ambivalência, podem se expressar pelos vômitos e desejos.

O segundo trimestre, traz como característica central a percepção da existência do bebe por meio dos primeiros movimentos fetais. É considerada a melhor fase para a mulher, contudo é importante destacar que este período é também cheio de dúvidas e ansiedades.
É através desta percepção do bebe que se instalam de forma decisiva os sentimentos de personificação do mesmo, a mulher passa a atribuir características pessoais de acordo com sua interpretação dos movimentos. Desta forma, quando os movimentos são suaves, o bebe passa a ser sentido como carinhoso e delicado, ou se por outro lado se os movimentos são sentidos como bruscos e violentos o bebe passa a ser visto como agressivo. A presença de ambivalência pode-se apresentar na interpretação dos movimentos fetais de várias maneiras, ao sentir os movimentos e ter a certeza de que o filho está vivo ou na ansiedade por não conseguir perceber os movimentos e que algo não esteja indo bem. Além de isso, interpretar os movimentos do bebe possibilita a formação da relação materno-filial em que, na fantasia da mãe, o bebe já começa a adquirir características peculiares e a se comunicar com a mãe por meio da variedade de seus movimentos.

O terceiro trimestre é um período de intensas emoções para a gestante, marcado pelo aumento significativo da ansiedade, que antecedem a data prevista para a chegada do bebê e que tende a intensificar mais ainda quando esta data é ultrapassada.
Os sentimentos são contraditórios e variam entre a vontade de ter o filho e terminar a gravidez, entre o desejo de prolongar a gestação para adiar as novas adaptações necessárias com a chegada do recém-nascido.
Nesta fase, a gestante terá maior facilidade em reviver antigas memórias de conflitos infantis com seus pais ou irmãos e que tinham sido reprimidos e esquecidos. O reaparecimento destes conflitos antigos poderá abrir a possibilidade de encontrar novas soluções, pode-se ainda observar que durante a gravidez há um aumento da maturidade feminina para com seus pais.
Para finalizar, entende-se desta forma que a intervenção do psicólogo no processo perinatal, pode contribuir para a expressão dos anseios naturais e ou patológicos dessa fase, por meio da fala ou de técnicas mais específicas, ressignificando-os, no sentido de tornar a experiência da maternagem o mais positiva possível. Há de se considerar ainda, que cada indivíduo é único em seu universo psíquico e singular diante das experiências vividas. Ao final o que se espera é que haja um fortalecimento e criação do vínculo do casal, que possa propiciar um ambiente mais tranquilo para a chegada do bebê.

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