Clínica Integrada Godoy

Restrição do sono e o impacto na cognição

“Os problemas de sono constituem uma epidemia global que ameaça a saúde e qualidade de vida de mais de 45% da população mundial” diz a Associação Mundial de Medicina do Sono. É sabido que, a qualidade de sono, assim como uma boa alimentação associada a atividade física e controle emocional contribuem para uma boa saúde e o bem–estar do individuo. Durante o sono, ocorrem processos fisiológicos, neurocognitivos e comportamentais, os quais podem sofrer prejuízos, no aspecto cognitivo devido sua restrição ou ausência. A restrição do sono resulta em redução da atividade cerebral nos córtices pré-frontal, parietal inferior e temporal superior, bem como no tálamo, mostrando que o sono é um grande evento no cérebro (Thomas et al, 200).

Os prejuízos neurocognitivos e comportamentais

Considerando os impactos com a perda de sono, vale a pena ressaltar que existem duas hipóteses teóricas que exploram os mecanismos de relação entre os prejuízos neurocognitivos e comportamentais e a restrição do sono. A primeira afirma que a restrição do sono tem efeitos globais na atenção sustentada, a qual se refere habilidades de se manter em alerta por um longo período de tempo, o que resultaria em diminuição da atenção com repercussões em todos os processos cognitivos que dependem da atenção sustentada. Essa hipótese é conhecida como hipóteses dos lapsos e instabilidade na vigília. A segunda hipótese é a da vulnerabilidade pré-frontal na qual advoga que a privação do sono prejudica processos que dependem do córtex pré-frontal, que seria a primeira área atingida ocasionando deficits em funções executivas, também conhecida como controle cognitivo e sistema supervisor atencional na qual regula os processos cognitivos, incluindo memória de trabalho, raciocínio, flexibilidade e resolução de tarefas, bem como planejamento e execução.

A restrição do sono no processo de aprendizagem

A perda de sono para crianças e adolescentes reflete diretamente no processo de aprendizagem, para os adultos recaem na produtividade, já para os idosos, na qualidade de vida. Em idosos, os resultados são contraditórios, essencialmente porque é difícil determinar com precisão o efeito da idade sobre os processos cognitivos na privação de sono em função das diferenças entre envelhecimento cognitivo normal e o envelhecimento com demência. Estudos mostram que indivíduos de 58 a 72 anos são capazes de manter seu desempenho depois de 25 horas de privação de sono. Já Waters e Bucks (2011) relatam impactos negativos nas funções executivas em decorrência dessa privação, em especial ao processo de flexibilidade mental, memória de trabalho, fluência verbal, resolução de problemas, capacidade de planejamento e pensamento criativo.

O impacto da privação de sono

Em média 10% da população são diagnosticados clinicamente com algum tipo de distúrbio do sono, sendo o mais relevante a insônia, seguido de apneia e síndrome das pernas inquietas. Considerando os efeitos dos distúrbios do sono na cognição, dados mostram que pacientes apneicos experimentam deficits na atenção referente a velocidade de processamento da informação e memória operacional reduzida (Verstraeten & Cluydts, 2004). Pacientes com insônia experimentam deficits no funcionamento diurno, podendo vivenciar períodos de estresse em sua vida pessoal e de trabalho. A Psicóloga Jo Abbott, da Universidade Tecnológica de Swinburne, na Austrália, defende que a insônia e doenças mentais estão bastante interligadas, elas se retroalimentam. Segundo ela, cerca de 50% dos adultos com insônia tem problemas mentais e 90% das pessoas com depressão sofrem para dormir. Em relação à síndrome das pernas inquietas, há evidências contraditórias sobre os deficits cognitivos. Paerson e colaboradores (2006) observaram efeitos nas funções executivas, fluência verbal e tomada de decisão, após uma noite de privação de sono total em 16 pacientes monitorados com polissonografia.

Especialistas afirmam que dormimos cada vez menos, e alertam que, um hábito de sono contínuo de menos de seis horas por dia pode acarretar um risco de desenvolver doenças com demências em idosos. Da mesma forma que, o uso contínuo de drogas indutoras do sono tem consequências negativas e promove perda cognitiva precoce, além de estar propenso a desenvolver doenças mentais. Assim como afirma Cramer relatando que a falta de sono possui impactos altamente nocivos a saúde física e mental. Portanto, devemos zelar para que, obtemos uma qualidade do sono duradouro suficiente para ficarmos descansados e alertas durante o dia (entre 07 e 09 horas por dia), continuo para que o sono seja efetivo, e profundo para que seja restaurativo (WASM), junto a orientação profissional quando necessário.

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